segunda-feira, 4 de maio de 2009

Entrevista com Fernando Zamith

Fernando Zamith, jornalista formado pela ECA-USP, em 1976. Cursando seu primeiro ano de faculdade começou a trabalhar no Estado de São Paulo como revisor. Já no segundo ano tornou-se repórter no Diário de São Paulo e Diário da Noite até o começo de 1976. Logo em seguida foi trabalhar no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, na sucursal de São Paulo. Foi repórter em várias áreas: política, economia, cultura, e depois se tornou chefe de redação. Em 1989 foi convidado para ser editor executivo do Diário do Grande ABC. Foi para a Jovem Pan e começou como chefe de reportagem, depois apresentador de noticiários e entrevistas, trabalho que faz até hoje.



Existe uma polêmica entre professores de universidades, escritores, alunos, jornalistas, sobre o jornalista poder ou não emitir opinião, o que você pensa sobre isso?
Há uma tradição que o jornalista tem que se reportar ao fato que acontece, mas o próprio jeito de você escrever a matéria vai mostrar uma opinião. A publicação de alguma notícia é o seu olhar sobre aquele fato. É preciso distinguir o que é opinião de um jornalista, pois quando acontece algo ele passa o panorama do que viu e isso mostra uma opinião. Agora existe aquela opinião que é editorial do jornal, o jornal se posiciona sobre certo fato. Esse mito que o jornalista não pode emitir opinião, isso é uma coisa que já foi pro espaço há muito tempo. É bom lembrar aqui que estamos vivendo num período complicado e saudável, por exemplo, vocês estão escrevendo um blog e o jornalismo impresso está indo para um caminho onde ninguém sabe o que vai acontecer. A tiragem dos jornais caiu de forma assustadora, as pessoas lêem menos os jornais, as pessoas se informam muito mais pelos meios de comunicação de alta tecnologia. Estamos vivendo um momento de transição. Quando alguém escreve um blog, ele é opinativo mas não é jornalístico. Daqui a pouco o Google vai deixar você escolher a notícia que você quer ler, o jornal não, ele te dá o que ele tem. Então você vai ler o que você quer, e não o que o jornal te oferece. O grande dilema do jornalista agora é isso. Por isso dizer que o jornalista pode ou não emitir opinião foi para o espaço, não interessa, é irrelevante. Jornalista precisa parar de achar que é um ser divino. Quem detém a informação hoje? Às vezes pode acontecer de um amador estar na rua, acontece algo do lado dele, por ele ter um objeto de alta tecnologia ele filma o fato e o vídeo dele aparece a noite no jornal. Não quero dizer que isso seja ruim, é saudável, o jornalista não vai ser jogado fora, pois o jornalista detém uma coisa que talvez o amador não tenha, que é o conteúdo, conhecimento e a bagagem cultural dos livros que ele leu.


Em alguns momentos o jornalista dá sua opinião, seja de forma subtendida ou não, por uma palavra que usou ou deixou de usar. Contanto que ele não mude a matéria, nem a notícia você acha que os jornalistas ao emitirem uma opinião podem dar mais crédito a notícia?
Nenhuma. O jornalista vai dar opinião de quê? Aonde que vai estar a opinião dele? Numa matéria política? Se ele adjetiva uma matéria, sabe o que vai acontecer? O leitor vai reagir contra isso. Isso salta aos olhos quando ele quer meter uma opinião dele. O fato transcende tudo isso, o fato é tão importante, é tão gigante, que ele vai superar tudo isso. Então a discussão sobre isso é irrelevante. Vocês têm que estar preocupados com a sobrevivência da sua profissão. Essa profissão vai existir daqui há uns anos? Por exemplo, você pega o News.google, o site mais acessado de jornalismo no mundo, ele não tem um redator, ele tem um sistema de algoritmos que captura na internet o noticiário que está circulando e joga nas páginas em várias línguas. Jornalista não tem que ficar preocupado hoje se ele deve ter opinião ou não, ele tem que ficar preocupado em que forma a profissão dele vai se adaptar com a mudança rapidíssima das coisas que estão acontecendo. Vocês terão esse privilégio quando vocês se formarem, as coisas vão estar mais cristalizadas, mais transparentes, então vocês vão poder adequar melhor. É irrelevante discutir se jornalista pode ou não emitir opinião. A preocupação maior hoje é a seguinte: a profissão de jornalista, como entendemos, como é que vai ficar? A tecnologia está avançando. Se acontecer alguma coisa agora a televisão mostra, o rádio passa a notícia, a internet apresenta, então, no dia seguinte você vai ter que abrir o jornal para ver o que aconteceu ontem? O jornalismo impresso está numa encruzilhada. O quê é que nos vamos escrever?


Como você mesmo disse, jornalista pensava que era Deus, mas ainda existem pessoas que pensam de determinada forma por causa da opinião do jornalista. O que você diz a respeito?
A nossa profissão de jornalista ainda tem uma coisa que não tiraram, chamada glamour. A nossa profissão de jornalista é tida como uma coisa absolutamente fascinante. O jornalista está com grandes personalidades, ele está no grande fato, ele pega um avião e desce não sei onde, ele é correspondente internacional, o cinema às vezes se encarrega de mostrar isso. Então esse glamour da uma áurea pro jornalista. Mas o jornalista é uma profissão como qualquer outra. Por isso que ainda existe isso, de algumas pessoas pensarem de determinado jeito por que um jornalista falou. Mas o ouvinte não é bobo, o leitor não é bobo, nem o telespectador é bobo, se o jornalista passa do limite, seja numa opinião, ou em outra coisa, o telespectador sabe. A discussão tem que ser outra, o jornal impresso está numa encruzilhada, o papel está caro, os leitores escassos, e já existem jornais de graça. Os meios de comunicação estão evoluindo, a tecnologia é forte. Hoje as pessoas sabem de informações rapidamente, antes tinha toda uma burocracia para a sociedade saber de uma notícia. Vocês que vão se formar precisam ter bagagem, informação e conhecimento. O jornalismo impresso vai encontrar uma solução. Precisa encontrar uma solução.


Qual a sua visão a respeito do jornalismo sensacionalista?
Ótimo. Sensacional. Jornalista vive disso.



Mas não fica cansativo ouvir bastante tempo sobre a mesma notícia?
O telespectador tem em mãos o controle, se não gostar, muda de canal.


Muitas vezes uma notícia é falada por bastante tempo e depois ela desaparece, e ninguém sabe o que aconteceu em seguida. O que você acha sobre isso?
Isso depende do peso da notícia. Se acontecer algo importantíssimo, como a morte da Isabela, era notícia enquanto o pai e a madrasta estavam soltos, quando eles foram presos pararam de ser notícia, dentro da prisão eles são como mais um que infringiu a lei.


O jornalismo sensacionalista é uma tendência?
Precisamos entender o real sentido da palavra. O sensacional é aquela notícia maravilhosa, que as pessoas querem saber. O sensacionalismo é a exploração dele, como mostrar pessoas morrendo, sangrando, gritando, chorando. Eu não sou contra.


Jornalistas, às vezes, faz show de algumas notícias e influência a população em geral?
Claro, ganha ibope. Isso de ficar repetindo bastante a mesma notícia é um recuso técnico, para ganhar o público. Assistam ‘Montanhas dos 7 abutres’.


Na mídia tem mais espaço para o sensacional ou sensacionalista?
Não dá para dizer. Cada um faz seu papel. Só existe sensacionalismo se houver notícia sensacional (jornalista sensacional). E a maioria das notícias sensacionais são trágicas. Existe um verso americano que diz: good news, are no news (boas notícias, não são notícias).


Por Aline Faria, Bruna Delprete e Jessica Lopes

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma boa entrevista.
Alguns pontos:
-Infelizmente, ele está certo.
Tragédia é notícia.
-Pra mim, o futuro do jornalismo impresso está nos especiais, livros, matérias longas. O imediatismo, a coisa da notícia de última hora não rola mais.
-Gostaria de saber o que ele acha dessa discussão sobre obrigatoriedade ou não do diploma na profissão.

Anônimo disse...

Ah, sobre o diploma... Sou contra.